quarta-feira, 5 de outubro de 2011

No tabuleiro tem: ... pupunheeê cozideeê!


Pupunhas & Café: delícias!Imagem reproduzida do Coisas da Cozinha 
Costumo ler em voz alta e com inflexão acentuada no meu sotaque paraense o expressivo poema abaixo. Agora, imagine - ó, leitor! -  quando posso saborear uma pupunha e dar golinhos no meu café, coado na hora? É uma conjunção de delícias, mas também uma provocação e medicamento à saudade das vivências inesquecíveis que eu carrego dia e noite, noite e dia da Amazônia? Sentiu a emoção consentida? É assim.

Não tenho dúvida alguma de que a Literatura e as suas expressões, tanto na prosa ou no verso, têm esse poder espetacular; ela remexe as referências históricas pessoais e, se o poeta, cronista ou romancista é muito bom, conseguirá fazer emergir com as suas descrições e relatos a História de um povo, de uma região. Pode ser a da minha saudosa Amazônia, tal como faz magistralmente o Paulo Nunes (Cultura Pará). Acompanhe:

              Pupunheiro

O sol fala o roto do rendilhado
e o pupunheiro
- de tabuleiro na mão -
vende pupunha fresquinha
por menos de um tostão

                  - Pupunheeê cozideeê
                  Verde vermelha ou amarela
                   o pupunheiro
                   casca descasca casca

e impressiona de prosa
a venta da freguesa acesa
- Freguesa, freguesa,
beleza se pões na mesa!...

                              Um lote por um real
                               bom barato e legal
                               o vendilheiro enfeita o pavão:
                               -pupunheeeê por um tostão!

Nas quinas da minha cidade
Mês d'abril, maio e junho
haja fome
haja cheiro
pra comer tanta pupunha

E é por isso que
a vida lá
Faça chuva faça sol
nas ruelas, vilas e praças
a gente gosta de escutar

Pupunheeê cozideeeê!...

(Paulo Nunes, O Mosquito qu'engoliu o boi. Belém: Paka-Tatu, 2002)


Pupunhas são vendidas em tabuleiros, lá na Amazônia- Foto do blog do Domisterco Fernandel
Diga lá ! - Já experimentou saborear uma pupunha, meu caro leitor? Se um dia puder, não hesite. É um acompanhamento delicioso para o café.

Preste muita atenção! - Aqui no Sul e Sudeste vejo a calculada disseminação comercial do palmito da pupunheira, ali pelos restaurantes urbanos, inclusive nos shoppings. Quando olho para as bandejas com as rodelas do palmito e sei da procedência, logo penso assim: ai, ai, ai, tomara que não acabem com os pupunhais!  É preciso plantar muitas pupunheiras para que não sejam dizimadas. Diante da ganância desenfreada de tantos e da conivência escancarada com desmatadores, todo o cuidado ainda é pouco, meu caro patrício. Quero ficar bem velhinha e, lá no meu Pará, ouvir o vendedor dizer a frase encantadora pupunheeê cozideeê... muitas vezes mais.

Até a próxima!

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